No álbum conceitual, rapper mistura hardtrap, funk e espiritualidade para narrar vivências de marginalização, resistência e reconstrução
O rap de D$ Luqi nunca foi de sussurrar. Com A Odisseia do Neguinho Violento e Vingativo, lançado na última quinta-feira (8), ele entrega um trabalho que é mais do que música: é documento, denúncia e catarse. Em dez faixas, o artista constrói um retrato sem retoques das contradições e feridas que marcam a vida de um jovem negro periférico no Brasil e também da força necessária para seguir em pé.
O projeto nasceu no início de 2025, durante um momento que Luqi descreve como “desencanto com a cena underground e com o mundo lá fora”. Dessa insatisfação veio um disco que recusa polidez e abraça a crueza, transformando indignação em rima afiada e batida pulsante. “É uma chuva de relatos”, resume.

Ex-professor de português, o rapper já era conhecido pela precisão lírica, mas aqui se aprofunda em uma proposta que chama de “violência consciente”, sem filtros, o peso do que ele impõe.
A sonoridade parte do hardtrap, mas não se prende: há passagens drumless, diálogos com o funk e até um encerramento acústico, revelando um artista disposto a romper suas próprias fronteiras. Luqi não cita influências diretas, mas deixa claro que o disco é movido por histórias e sentimentos reais, não por referências de estúdio.
Produzido por Vidari & ohayomatsu, o álbum costura crítica social, espiritualidade afro-brasileira e a urgência de quem sabe que sua voz é, antes de tudo, um ato de resistência.