Jovens brasileiros entre 15 e 29 anos redefinem o engajamento político e a comunicação nas redes sociais
A nova geração de brasileiros está reconfigurando o modo como o país se informa e se relaciona com a política e com o mundo. Segundo o IBGE, o Brasil tem hoje cerca de 47 milhões de jovens entre 15 e 29 anos, pertencentes à chamada Geração Z. Eles nasceram entre 1995 e 2010 e cresceram conectados a múltiplas telas, o que os torna não apenas consumidores, mas também produtores de conteúdo em plataformas como TikTok, Instagram, YouTube e WhatsApp.

De acordo com o estudo “A Corrida pela Atenção”, da plataforma Gente, da Globo (2024), o consumo de conteúdo no Brasil é cada vez mais fragmentado e acelerado, ou seja, há cada vez menos tempo para prender a atenção. A pesquisa mostra que 66% dos jovens afirmam que preferem vídeos curtos e dinâmicos e que o YouTube e o TikTok são os principais meios de descoberta de novos assuntos. O Instagram ainda continua sendo a rede social mais acessada por essa geração. A principal forma de consumo é por vídeos que pareçam entretenimento digital. Há espaço para fotos e textos, mas de forma mais descontraída, objetiva e organizada, em formato de dicas e descritivos.
Para o publicitário Zuza Nacif, CEO da Brasil Comunicação e estrategista político e digital, esse comportamento muda completamente a forma de pensar a comunicação política. “A Geração Z quer mais objetividade, menos discursos que soem de cima para baixo e também não acredita mais na figura do político salvador da pátria. Ela é tecnológica, empreendedora e quer que o seu trabalho contribua para melhorar o mundo. É a geração que não vê mais sentido em virar noites bebendo, porque prefere uma matinê ou a casa de amigos; que acredita que o trabalho é apenas uma parte da vida, e não a principal função na vida.”

“É a geração que deixou as praças e os bares para formar opinião e discutir o mundo nas redes sociais. E é ela que está moldando como todas as outras gerações consomem informação, pois é a maior produtora de conteúdo em todas as redes. É ela que ensina aos pais, avós e tios como mexer nos celulares, nas TVs, nos novos eletrodomésticos. Ela é a principal referência para todas as outras gerações em dicas de melhorias na rotina, seja usando um app de banco ou fazendo uma consulta online. Assim, os políticos precisam compreender que não basta ter perfis em redes sociais, é preciso ser digital e fazer política de uma forma moderna e conectada com as novas aspirações dessa geração.”, analisa o marketeiro político.
O comportamento empreendedor também define esse grupo. Segundo o IBGE, 57% dos jovens da Geração Z querem empreender. O LinkedIn registra 75 milhões de usuários brasileiros, número que reforça o interesse pelo desenvolvimento profissional e pela construção de reputação pessoal. A rede é usada para compartilhar experiências e interesses profissionais. “Para os políticos, o LinkedIn, que é uma rede pouco usada na política, passa a ser fundamental, com pautas de causas e de empreendedorismo e conectando pessoas com interesses em comum.”
A relação da Geração Z com a política ainda é marcada pela desconfiança nas instituições tradicionais, mas há interesse crescente em temas sobre melhoria de vida, assuntos sociais, tecnológicos e ambientais. Esta é uma geração que quer mais viver bem, mesmo que com pouco, do que morrer trabalhando. Assim, pautas como segurança e viver de forma mais digna passam a ser fundamentais. E eles esperam isso da política. Porém, eles valorizam a construção de pautas participativas, onde sejam tratados como atores e não apenas como espectadores. “Eles valorizam o posicionamento, mas rejeitam o tom impositivo. Querem diálogo, não discurso, querem propósito e a construção conjunta de dias melhores e não apenas propostas elaboradas e/ou divulgadas em gabinetes”, explica Zuza Nacif.

Da timeline ao voto: como a Geração Z quer ser parte da conversa e não apenas o alvo da campanha
O uso do WhatsApp como fonte de informação também cresce. Hoje, a plataforma funciona como arena de debates, entretenimento, conversas e disseminação de conteúdo. Um incremento que aparece nessa rede é a Inteligência Artificial da Meta, que amplia o acesso a notícias e conteúdos personalizados. “O WhatsApp virou a nova praça pública. É onde se compartilha, debate e constrói opinião”, comenta Zuza Nacif.
O comportamento digital se mistura à vida doméstica. Neste contexto, o consumo de vídeos sob demanda em TVs conectadas (CTV) ganha destaque: o relatório Kantar Cross Platform View revela que a participação de audiência do YouTube em CTV para maiores de 18 anos saltou de 41% para 53% em dois anos (comparando janeiro a março de 2022 com janeiro a março de 2025). O Brasil é um dos maiores consumidores de YouTube na CTV do mundo. Outro dado relevante é que 80 milhões de brasileiros assistiram ao YouTube em suas TVs conectadas em 2025, segundo informações de consumo internas do mês de abril.
Para o marketeiro Zuza Nacif, o recado é claro: “A comunicação política precisa entender que não há mais diferença entre online e offline. A Geração Z não navega na internet, ela vive nela. E quem quiser falar com ela, e com quem ela fala, precisa aprender a escutar primeiro e ser digital, não apenas ter uma conta no Instagram para os políticos falarem e se mostrarem. É preciso construir conexões na rotina das pessoas, despertando um sentimento de participação e colaboração”.



















